quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014
Ser médium na cidade e ser médium no interior.
Diferenças sentidas entre viver na cidade e viver na area rural para um médium:
É como dirigir carro "quase" quebrado: ele anda mas você desejaria que ele quebrasse de vez para não ter nem que tirá-lo da garagem.
Sono:
- na cidade, não consigo dormir por causa do barulho, das luzes, do calor e das dores no corpo. Médiuns são muito sensíveis a ondas sonoras, desde a música em alto volume até uma torneira pingando. Mesmo a vibração das paredes com o som alto das baladas era muito dolorido. Eu escuto o celular do apartamento vizinho tocando, então imagino que se alguém comparasse minhas queixas com a de um não-médium, o barulho a que me refiro seria o triplo do que normalmente reclamariam (buzinas, transito, bares). Luzes também são ondas e me sinto afetada por elas mesmo em locais onde diriam que está escuro. Então, a porra da luz do telefone fixo, é, aquela minúscula luzinha vermelha, incomoda. Imagina todo o jogo de luzes dos carros passando que nem dez cortinas sobrepostas resolveriam. Então tem o calor vindo de todo tipo de máquina : café, televisão, computador, rede elétrica, que é um calor cortante, mais a irradiação do calor que o material das paredes do prédio absorveram do sol durante o dia. Tudo isso eu sinto na hora de dormir. Aí vem a dor de cabeça, dor de junta, cólicas, e eu pergunto para o meu corpo : até tu Brutus! Tá do lado de quem? Ajuda aí, porra. A muda resposta do corpo físico me parece uma carta de aviso prévio.
- no campo, consigo dormir pesadamente. As dores de esforço físico não "machucam". A fibromialgia fica sob controle. Nem todos os médiuns tem fibromialgia, mas todos sofrem de dores, principalmente na coluna e na cabeça. Mesmo havendo vizinhança barulhenta e curiosa ( chamada DIVA - departamento de investigação da vida alheia), típica da cultura rural, não se compara a cidade grande. A luz do telefone não incomoda, o calor dos equipamentos e das construções é suportável .
Sonhos:
- na cidade, é difícil lembrar-se deles ao acordar. O conteúdo é quase sempre de 'limpeza" do cérebro organizando os fatos do dia. Provavelmente a qualidade ruim de sono afeta os sonhos, o que é uma porcaria para o médium. Não queremos lembrar de conteúdos espirituais sempre. O que acontece Lá, fica Lá, mas se os sonhos não são os mesmos dos tempos saudáveis (então você precisa de treino para saber o que é saudável para si ), aquilo que faria uma pessoa ficar doente em quinze dias, faz em dois, para um médium.
- no campo, não lembro dos sonhos ao acordar, ou faço com dificuldade, mas o conteúdo é pontual, específico, como um recado curto e grosso enviado para alguém que não quer ouvir uma mensagem. Aqui devo confessar que, entre todos os meios 'proféticos', estou deixando os sonhos de lado, pois para mim é entediante separar o conteúdo emocional, subconsciente, material de trabalho psicanalítico, conteúdo interiorizado e outras coisas que a psiquiatria gasta tempo para nomear (por que eles são pagos para fazê-lo e eu não), do que é realmente uma mensagem... E olha que depois de 42 anos eu consigo avaliar meus sonhos em dez minutos. Quer falar comigo? Entra na fila e bate na porta ... de dia.
Capacidade mental :
- na cidade, manter um foco é razão de muito sofrimento. Ao ponto de achar que é caso de revisar as doenças na família (Alzheimer, Esclerose, afins). Erros graxos como colocar gelo no armário e pano de prato na geladeira começaram a passar de ressaca para rotina. Isso geralmente é consequência de noite mal dormida, de onde se vê que m#rda é a tal da boa noite de sono.
- no campo, dois meses seguidos são suficientes para restaurar essa bagunça.
Comunicação com as "gentes mortas":
- na cidade, não recebo mensagens como de costume. Embora isso seja um sonho para mim, médium que não recebe comunicação tá doente, ou de castigo. Com certeza todas as ondas sonoras, luminosas, vibrações humanas e não humanas comprimidas em pouco espaço não ajudam a receber mensagem de ninguém.
- no campo, consigo mandar mensagens para os "gentes mortas" e recebo o volume normal, ou seja, quando eles querem ou acham digno de me responder. Como tenho que continuar com o trabalho nos livros, já vejo eles se aproximando calados, para encher a "caixa postal" de alegria.
Energia:
- na cidade, baixa total. Tenho certeza que , mesmo nos dias que consigo um sono aproveitável, umas três horas depois de acordar, se não tenho que ir na padaria ou feira, ela é consumida rapidinho em restaurar meu campo magnético, tipo Wolverine tendo a pele retirada cem vezes e recuperando outras cento e uma. Na hora do almoço já gastei todo açúcar e plasma do corpo e escutei "você está com uma cara péssima, vai dar um jeito nisso" cinco vezes. #amo muito tudo isso.
- no campo, se não há calor infernal, a energia restaura tranquilamente e com facilidade.
Ataques de pânico:
- na cidade. Quem nunca, né, teve medo. A maior parte dos médiuns tem medo crônico. Não dá para explicar tudo o que acontece no sistema mediúnico. Não dá para ter dez cientistas lhe explicando as minúcias da rotina de médium, mesmo porque eles vão lhe usar de cobaia para a maioria delas, já que a ciência está descobrindo as causas desses efeitos que nos acompanham a milênios... agora. Somadas as particularidades deliciosas da mediunidade estavam todos os acompanhamentos energéticos da vida 'moderna'. Era ataque de pânico todo dia. Não tenho como calcular o que acontece se continuo na cidade sem folga por muitos anos. Como os ataques são vários mas de pequena intensidade, dá para viver como gente 'normal', com muito sofrimento, muito "respira belo nariz, solta pela boca" muito floral de Bach (rescue remedy), mentalização... uma felicidade só.
-no campo, são poucos e curtos. Com certeza tem a ver com não ter o estado de atenção total , dia e noite, que a cidade grande coloca a todos, mas que comprime o médium a níveis inumanos.
Glicose e pressão sanguínea:
-na cidade, mal consigo ter uma semana normal. A dieta para hipoglicêmicos não funciona, só aliviava. Sinto que meu sistema fica louco ao ver a quantidade de energia que tem que produzir para suprir as interações mediúnicas e a demanda que a cidade pede.
-no campo, as quedas são espaçadas, mas, quando acontecem, são várias vezes em seguida, volto ao normal subitamente, ou seja, não tem hora para acontecer, dia ou noite. Está lá, não importa que maravilha da natureza provoque isso.
Embora saiba de coisas que podem ser feitas para diminuir os efeitos nocivos da poluição, não houve tempo para aplicá-las nas cidades que morei. Isolamento acústico custa caro e, embora existam soluções mais acessíveis, não cheguei a poder experimentá-las. Para o resto: ionizadores-umidificadores de ar, cores, aromas, exercícios de desintoxicação. Infelizmente, essas soluções não lhe acompanham na rua, e muito do que se faz diariamente não é dentro de casa. Chega ao ponto que para o médium não sofrer tanto e ter uma vida "normal", o que quer que isso signifique, o empenho e custo são tão altos que fica mais barato morar no campo.
Depois dessa experiência comparativa, fica fácil dizer a outro médium o que daria alívio, mas verdade seja dita, já tive de falar para médiuns bem jovens o quanto a vida para nós é restritiva, e que esteja preparado para que piore com a idade não só pela parte física, mas porque o tempo torna nossas capacidades mais fortes , então, mais vidas restritivas ainda. É pessoal, bem vindos ao clube nada seleto dos que vêem gente morta!